* Terra
É muito comum uma criança pequena tentar fazer valer suas vontades na base de berros, chiliques, desaforos e acessos de raiva, seja em casa, no supermercado ou na loja de brinquedos. Muitos pais, por vergonha, receio das opiniões alheias ou simples desejo de por fim ao berreiro, cedem aos apelos desses pequenos autoritários. Mesmo em casos que parecem perdidos é preciso manter a calma e tentar reverter a situação, pois essa postura, tanto das crianças quanto dos pais, poderá trazer severas consequências no futuro.
O neuropediatra do Departamento de Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria, Saul Cypel, explica por que os filhos pequenos agem dessa maneira. “É um comportamento relativamente frequente, principalmente em crianças que nunca aprenderam a aceitar frustrações, ou seja, ninguém lhes disse o que pode e o que não pode”, afirma. Ainda segundo ele, essa reação pode aparecer já em crianças de apenas um ano, em situações corriqueiras. “O bebê chora por não querer tirar ou colocar uma roupa, por exemplo. Se acostumar a vencer na base do grito, ele repetirá a tática em outras ocasiões”.
Mas o que fazer diante desse desafio?
A dica é, primeiramente, impor limites e, se o alvoroço começar, não dar tamanha importância aos chiliques. Isso pode ajudar os filhos a entender que esse não é um comportamento aceitável. Joseane de Souza, psicóloga e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, afirma que os pais não devem ser coniventes com esse tipo de reação. “O chilique é uma maneira de tentar controlar o comportamento dos pais. Quando estes cedem, a criança pensa que conseguirá o que deseja sempre que se exaltar”.
Outra saída, segundo Saul Cypel, é o diálogo. Para ele, esse é o melhor caminho para a educação dos filhos e a recomendação é que não se deve ignorar a birra sem dar à criança alguma explicação. “É importante que os pais entendam que a criança está passando por um momento de sofrimento emocional e está convivendo com a frustração de não ter sido atendida. Achar simplesmente que é manha ou birra e deixar a criança se debatendo não é o melhor caminho”. Segundo o especialista, os pais não precisam se render ao pedido da criança, mas devem acolhê-la e conversar com ela, mostrando que não se pode ter tudo na hora que se quer. “Isso faz parte de um processo de aprendizado emocional”.
Para o neuropediatra, o diálogo deve existir desde os primeiros meses. “Quando o filho ainda é bebê, no período do aleitamento, é preciso impor o ritmo ideal da mamada, não aceitar pura e simplesmente o desejo da criança. Mesmo para o bebê que está acostumado a mamar durante a noite, é bom mostrar o ritmo certo aos poucos, indicando inclusive que a mãe precisa descansar. Essa postura desde o início previne o aparecimento de reações indesejadas o futuro”.
Joseane afirma que uma reação inesperada também pode ser ocasionada por estresse ou mesmo sono, e que cabe aos pais encontrar uma forma de acalmar os pequenos. “Quando esse comportamento se torna rotineiro, significa que os pais não estão conseguindo educar seus filhos corretamente”.
Tirar a criança do ambiente em que se encontra pode ser a saída para acabar com uma manha feita durante uma festa ou em um shopping, por exemplo. “Levá-la para outro lugar e esperar que se acalme vai ajudá-la a pensar no que fez. Se a birra aconteceu no meio de uma festa, o ideal é levá-la embora, para não premiar o seu mau comportamento”.
Cypel reforça que os pais têm papel fundamental na condução do comportamento dos filhos. “O diálogo e a presença dos pais são fundamentais. Desde a gravidez, eles devem buscar informações a respeito de suas funções, para que tenham condições de acompanhar o desenvolvimento dos seus filhos, prevenindo problemas futuros”, conclui.
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